sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

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Mas voltou ao escritório, abriu a porta do gabinete e sentou-se na ponta da cadeira. Maldito hábito,pensou.Tirou as pérolas do bolso do casaco e colocou-as sobre a secretária, abriu sem vontade o dossiê para estudar as alienas do contrato sem conseguir concentrar-se  quando o telemóvel tocou.
Atendeu de mau grado, mas era o gestor de conta  do banco, a informar que tinha duas prestações em atraso  da compra da habitação.
Provavelmente tinha esquecido, contas não eram com ele, não devia ter saldo suficiente senão não lhe tinham ligado, agendou uma reunião para o dia seguinte, para tratar do problema e então entrou na realidade, de que precisava de trabalhar para poder pagara as contas. Entranhou a fundo no estudo do contrato que estava incumbido. Era um contrato complexo e minucioso com várias alíneas a serem limadas.
Não era o único que ainda estava a trabalhar, pois alguém bateu energicamente na porta antes de entrar. Meteu apressadamente as pérolas no bolso do casaco. E quando a porta se abriu ficou expectante! O director ( chamavam-lhe o GF que quer dizer o Grande Chefe) pessoalmente vinha-o informar que tinha uma reunião marcada para daí a dois dias em Londres  iria com a directora geral tratar do contrato que tinham em mãos, pois não o podiam perder, uma vez que era uma mais valia para a empresa. Aquiesceu mas ficou zangado e apertou as mãos dentro dos bolsos para não estrangular ninguém.
Era tardíssimo quando saíu. Jantaria algo no regresso a casa.
Quando entrou em casa meteu as pérolas dentro da caixa e deu uma espiadela ao anel que lá se encontrava.Só nesse momento reparou num pormenor muito interessante. O anel tinha sete pérolas sobrepostas noutras sete. Sete. Que estranho ela tinha partido no dia 07 do mês 07 de 2007, tinha sido há 7 anos! Que sincronismo! Tomou um duche quente e foi dormir. Amanhã era outro dia e ameaçava ser bem árduo.
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Autor :Piedade Araújo Sol

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

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©Piedade Araújo Sol

     Desceu o elevador do prédio onde morava e pensou que não lhe apetecia levar
o carro, achou-se estranho, sempre adorara conduzir, mas meteu-se no metro e saiu na estação do Marquês. Desceu a Avenida da Liberdade, o frio de Novembro a cortar-lhe a pele dando-lhe uma sensação de liberdade e prazer como se a vida fossem esses pequenos detalhes.
Sem sequer se aperceber descia a Rua Portas de Santo Antão e olhava absorto a fachada de um restaurante vegetariano que ela gostava de frequentar. Saiu do seu torpor e estugou o passo, achava que não se estava a reconhecer, parecia que algo lhe empurrava os passos.
Chegou atrasado e para sua surpresa, estavam esperando-o para uma reunião de emergência pois precisavam de um parecer jurídico sobre um contrato acerca de um projecto de arquitectura que estavam a fazer para uma empresa angolana, com uma filial em Londres.
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Autor :©Piedade Araújo Sol

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©Piedade Araújo Sol

Sabia que era tudo uma ilusão, eram só pétalas. Ainda tentou ignorar e não olhar mais para a caixinha que repousava sobre a mesa, mas por vezes e quase sem se aperceber, antes de fechar a porta deitava um ultimo olhar como a despedir-se dela, e quando o fazia achava que o dia lhe corria melhor. Vasculhou na agenda o número dela mas já não existia. Quando ela foi embora tinha apagado tudo o que lhe dizia respeito, como se isso fizesse com que também a apagasse. Encontrou o anel e o colar de pérolas que não lhe chegou a dar. Ela adorava pérolas.
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Autor : ©Piedade Araújo Sol

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Algum tempo depois as pétalas caíram desamparadas sobre a mesa. Juntou-as delicadamente e guardou-as dentro de uma caixa de jóias que ela se tinha esquecido quando partira, e deixou-a aberta sobre a mesa. Era capaz de jurar que todas as vezes que abria a porta da entrada e as olhava de soslaio o seu aroma espalhava-se pela casa…

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

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Colocou as flores num copo cheio de água fresca no hall de entrada...O seu perfume espalhou-se pela casa e pela pele...
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Autor ©Piedade Araújo Sol

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Quando recebeu as flores, não precisou de ler o cartão, porque tinham ainda o seu perfume.
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Autor : ©Piedade Araújo Sol